terça-feira, 28 de agosto de 2012





" Ainda consigo ouvir o mínimo barulho dos nossos pés ao subirem aquelas longas e sujas escadas, para chegarmos ao ponto mais alto do prédio. Era escuro, e silencioso, um pouco aterrador até, lembro-me de sentir, e ouvir aquela leve brisa que passava pela janela partida do topo do prédio, e nos tocava friamente. Virei-me e procurei-te no meio da escuridão, para que me agarrasses com força, aquela brisa punha-me com frio e aquele prédio enchia-me de medo, mas confesso que só encontrei os teus grandes olhos cintilantes, nunca vira nada assim. Era esse o tipo de olhar que me deixava intimidada, que me fazia sentir observada de uma maneira forte, mas ao mesmo tempo era esse tipo de olhar que me deixava segura. Então, fiquei focada nos teus olhos, por momentos parecera que o tempo parara , e ficamos nós ali, frente a frente, com uma troca de olhares intensa. Desviei o olhar, baixei a cabeça por momentos, e foi ai que avançaste para mim, com o teu dedo indicador levantaste-me o queixo, passaste a tua mão rígida e quente por um lado da minha face, e de seguida pousaste as tuas grande mãos na minha cara, e focaste de novo o teu olhar em mim. Senti as minhas finas pernas bambas, tremia por todo o lado, á espera de uma reacção tua. Foi então que encostas-te a tua testa na minha, fechaste os teus olhos, e eu, sempre acompanhando-te, fiz o mesmo, fechei os meus pequenos olhos. Brincas-te um pouco com o meu nariz, roçando o teu no meu, e nesse momento, no meio da brisa e daquela escuridão, que lentamente encostas-te os teus finos lábios aos meus. Intercalamos os nossos lábios, de uma forma única, em slow motion, quase como numa comédia romântica. Beijámo-nos sem fim, envolvi os meus braços no teu pescoço, e tu , os teus na minha cintura, empurrando-me contra ti, de uma maneira fortíssima. Foi com um simples gesto que percebi que estavas pronto para subirmos a outro patamar, com a maior delicadeza, como se eu fosse uma boneca de porcelana, me puseste deitada naquele chão, sujo e com pó, e te deitas-te a meu lado. Durante todo aquele bocado que já tinha passado, nunca tínhamos tido nenhuma troca de palavras, apenas uma ou duas trocas de olhares. Mas ao pores-te deitado a meu lado, mexeste-me nos meus longos e grossos fios de cabelo, e me perguntaste, com uma voz baixinha, mas forte "sentes-te bem?" . Eu apenas sorri, aproximei-me ao máximo de ti, e entreguei-me a ti, como nunca acontecera com mais ninguém, entreguei-me a ti ao ponto de sentir o teu coração acelerado, e ouvir a tua respiração ofegante. E desejei mais que tudo que naquele momento tudo parasse, inclusive o tempo, e que apenas existisse duas pessoas no mundo: tu e eu."

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